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Em ano de COP30, programas do governo miram o restauro de milhões de hectares na Amazônia e no Cerrado
05/06/2025
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/
Em ano de COP30, programas do governo miram o restauro de milhões de hectares na Amazônia e no Cerrado
O novo Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) e as linhas especiais de financiamento do BNDES são esperança do setor, que ainda enfrenta gargalos de uma cadeia em desenvolvimento
05/06/2025
Lucas Altino
A redução do desmatamento verificada pela Rede Mapbiomas em todos os biomas do país no ano passado é resultado direto de ações de preservação ambiental. Apesar de positivo, porém, o freio na degradação não é o suficiente para reverter os efeitos da devastação nas últimas décadas, em especial na Amazônia e no Cerrado. Por isso, reflorestar é preciso. Enquanto o setor privado abre os olhos para os créditos de carbono, o poder público vem lançando mão de uma série de programas e linhas de financiamento para impulsionar a restauração no país.
O desafio vai além da injeção de verba. É preciso também estruturar a cadeia produtiva do reflorestamento no Brasil. O momento é oportuno, já que, este ano, o país vai sediar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, no Pará.
O principal instrumento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para o setor é o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), cuja meta é restaurar 12 milhões de hectares de terras degradadas no Brasil até 2030, com verba de R$ 1 bilhão. Além disso, a Estratégia Nacional de Áreas Protegidas (Epanb), outra política federal, prevê a recuperação de 30% das áreas degradadas até 2050. Esses objetivos ajudarão o país a alcançar os compromissos firmados no Acordo de Paris, já que florestas absorvem dióxido de carbono (CO2), neutralizando a emissão de gases do efeito estufa.
A Comissão Nacional para a Recuperação da Vegetação Nativa (Conaveg) está identificando as áreas prioritárias de cada bioma. Na Amazônia, ao menos 14 mil hectares de terra estão sendo reflorestados em projetos voluntários, segundo dados do Observatório da Restauração e Reflorestamento (ORR). Além disso, aproximadamente 258 mil hectares são alvo de "restauração compulsória" - geralmente medidas de compensação obrigatórias de empreendimentos poluidores -, de acordo com os dados do Ibama. Paralelamente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou uma extensão de 16 milhões de hectares de floresta em regeneração natural.
Não basta apenas plantar
Já no Cerrado, o balanço é de 20 mil hectares em restauração via projetos voluntários e 63 mil hectares em medidas compensatórias.
- Os processos de restauração são fundamentais não apenas para enfrentar a mudança do clima e conservar a biodiversidade, mas também para impulsionar o desenvolvimento territorial, fortalecer a segurança alimentar e gerar renda - afirma Rita Mesquita, secretária nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do MMA. - A restauração está no centro de uma cadeia produtiva dinâmica, que envolve comunidades tradicionais, setor privado e investidores. Restaurar não é apenas plantar, é promover uma nova economia, baseada em negócios que aceleram a transição sustentável do Brasil.
Sâmia Nunes, pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale (ITV-DS) e líder do Grupo de Trabalho de Políticas Públicas da Aliança para Restauração na Amazônia, explica que o mercado do restauro cresceu muito, mas o momento exige planejamento para se dimensionar a oferta e a demanda de mão de obra, além de fatores essenciais para esse trabalho, como a disponibilidade de sementes e mudas.
- A principal agenda ambiental da Amazônia era conter o desmatamento. Décadas de degradação resultaram na perda de cerca de 20% da floresta, levando ao surgimento de áreas críticas em termos de biodiversidade, escassez hídrica e produção de alimentos - diz Sâmia. - Nos últimos 15 anos, governo, empresas, sociedade civil e povos tradicionais vêm intensificando ações para recuperar a floresta, mas não sabemos ao certo o tamanho dessa demanda e o quanto cada região é capaz de absorver.
Saberes tradicionais
Em nota enviada ao GLOBO, o Ministério do Meio Ambiente reconhece que a falta de assistência técnica e de experiências de restauração nos diferentes biomas é desafio. Segundo a pasta, valorizar os saberes das populações tradicionais sobre processamento de sementes e mudas será muito importante. Mas o MMA também vê como fundamental fortalecer a cadeia produtiva da restauração.
Para Sâmia Nunes, é urgente ampliar programas de pagamento por serviços ambientais e de investimentos em pesquisas sobre ecologia das espécies. Também é essencial, na visão dela, aumentar a participação de populações tradicionais e fomentar a cadeia de coleta, produção e distribuição de sementes e mudas:
- Programas de financiamento são importantes para impulsionar a restauração. É preciso aumentar o volume de recursos para regiões vulneráveis, como a Amazônia, melhorando a acessibilidade às linhas de financiamento e crédito, com inclusão de comunidades tradicionais e fomento da bioeconomia.
'Revolução verde silenciosa' do BNDES
As soluções para financiamento de restauro são uma agenda estratégica do BNDES, que projeta uma "revolução verde silenciosa" para dar escala a iniciativas florestais. Entre recursos do Fundo Amazônia, do Fundo Clima e do próprio banco, já foi destinado mais de R$ 1,1 bilhão para o reflorestamento desde 2023.
Entre os principais investimentos através de editais estão o Floresta Viva, para financiar projetos em biomas como Cerrado, Pantanal e Caatinga; o Restaura Amazônia, que já recebeu R$450 milhões do Fundo Amazônia e lançou nove editais para ações em unidades de conservação, assentamentos e terras indígenas; e o Florestas do Bem-Estar, que selecionou cinco projetos em área de 800 hectares na Amazônia.
Em acesso a crédito, o BNDES já disponibilizou R$ 515 milhões a negócios florestais. Empresas como a Mombak, a Regreen e a Mil Madeiras são algumas que obtiveram financiamentos para iniciativas de remoção de carbono e manejo de árvores na Amazônia.
Mas o grande projeto da agenda é o Arco da Restauração, que visa recuperar a extensa área de floresta na Amazônia, conhecida como o arco do desmatamento, que vai do leste do Maranhão até o Acre. A meta é restaurar seis milhões de hectares até 2030, o que significa a remoção de 1,65 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera no período.
O maior desafio é a captação de recursos para um trabalho dessa magnitude. Mas Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES destaca que o montante já desembolsado para um negócio que sequer existia há 15 anos é um sinal do seu potencial econômico.
- É muito dinheiro para floresta. Saímos do desenho de projetos piloto interessantes e estamos atuando em escala. Hoje temos mais de 40 milhões de hectares degradados que poderiam ser restaurados. Só o Brasil tem tecnologia, capacidade e esse potencial de restauro excepcional - explica Campello, que acrescentou as expectativas para a COP30. - Um dos cartões postais do Brasil na COP30 vai ser floresta, acho que vamos sair com mais dinheiro na mesa. Já botamos na mesa as soluções que viabilizarão o restauro florestal do futuro. Está em andamento, não é mais promessa.
Desde que o BNDES lançou essa agenda, alguns gargalos ficaram evidentes, como a dificuldade de startups darem garantias para obterem financiamentos, e as incertezas do mercado sobre riscos e retornos. Por isso, explica Campello, o banco se aproximou dos atores desse mercado para buscar soluções. Assim surgiu o ProFlorestas +, em março, para contratação de créditos de carbono a partir de restauração florestal na Amazônia. A expectativa é restaurar 50 mil hectares de floresta degradada da Amazônia.
Em uma parceria com a Petrobrás, o BNDES oferecerá linhas de financiamento especiais, enquanto a petroleira vai garantir a compra de créditos de carbono gerados pelos projetos selecionados, em contratos de longo prazo. A seleção será feita através de leilões, a depender da melhor oferta de preços, e a primeira concorrência acontece em julho.
- Passamos a ter um contrato de referência para preço do carbono e teremos créditos de altíssima qualidade e integridade. Muita gente se manifestou e estamos sendo procurados por outros grandes demandantes internacionais para replicar o modelo. É o que vai pavimentar o caminho de restauro no Brasil na nossa avaliação - defende Tereza Campello.
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/06/05/em-ano-de-cop30-programas-do-governo-miram-o-restauro-de-milhoes-de-hectares-na-amazonia-e-no-cerrado.ghtml
O novo Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) e as linhas especiais de financiamento do BNDES são esperança do setor, que ainda enfrenta gargalos de uma cadeia em desenvolvimento
05/06/2025
Lucas Altino
A redução do desmatamento verificada pela Rede Mapbiomas em todos os biomas do país no ano passado é resultado direto de ações de preservação ambiental. Apesar de positivo, porém, o freio na degradação não é o suficiente para reverter os efeitos da devastação nas últimas décadas, em especial na Amazônia e no Cerrado. Por isso, reflorestar é preciso. Enquanto o setor privado abre os olhos para os créditos de carbono, o poder público vem lançando mão de uma série de programas e linhas de financiamento para impulsionar a restauração no país.
O desafio vai além da injeção de verba. É preciso também estruturar a cadeia produtiva do reflorestamento no Brasil. O momento é oportuno, já que, este ano, o país vai sediar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em novembro, no Pará.
O principal instrumento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para o setor é o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), cuja meta é restaurar 12 milhões de hectares de terras degradadas no Brasil até 2030, com verba de R$ 1 bilhão. Além disso, a Estratégia Nacional de Áreas Protegidas (Epanb), outra política federal, prevê a recuperação de 30% das áreas degradadas até 2050. Esses objetivos ajudarão o país a alcançar os compromissos firmados no Acordo de Paris, já que florestas absorvem dióxido de carbono (CO2), neutralizando a emissão de gases do efeito estufa.
A Comissão Nacional para a Recuperação da Vegetação Nativa (Conaveg) está identificando as áreas prioritárias de cada bioma. Na Amazônia, ao menos 14 mil hectares de terra estão sendo reflorestados em projetos voluntários, segundo dados do Observatório da Restauração e Reflorestamento (ORR). Além disso, aproximadamente 258 mil hectares são alvo de "restauração compulsória" - geralmente medidas de compensação obrigatórias de empreendimentos poluidores -, de acordo com os dados do Ibama. Paralelamente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou uma extensão de 16 milhões de hectares de floresta em regeneração natural.
Não basta apenas plantar
Já no Cerrado, o balanço é de 20 mil hectares em restauração via projetos voluntários e 63 mil hectares em medidas compensatórias.
- Os processos de restauração são fundamentais não apenas para enfrentar a mudança do clima e conservar a biodiversidade, mas também para impulsionar o desenvolvimento territorial, fortalecer a segurança alimentar e gerar renda - afirma Rita Mesquita, secretária nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do MMA. - A restauração está no centro de uma cadeia produtiva dinâmica, que envolve comunidades tradicionais, setor privado e investidores. Restaurar não é apenas plantar, é promover uma nova economia, baseada em negócios que aceleram a transição sustentável do Brasil.
Sâmia Nunes, pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale (ITV-DS) e líder do Grupo de Trabalho de Políticas Públicas da Aliança para Restauração na Amazônia, explica que o mercado do restauro cresceu muito, mas o momento exige planejamento para se dimensionar a oferta e a demanda de mão de obra, além de fatores essenciais para esse trabalho, como a disponibilidade de sementes e mudas.
- A principal agenda ambiental da Amazônia era conter o desmatamento. Décadas de degradação resultaram na perda de cerca de 20% da floresta, levando ao surgimento de áreas críticas em termos de biodiversidade, escassez hídrica e produção de alimentos - diz Sâmia. - Nos últimos 15 anos, governo, empresas, sociedade civil e povos tradicionais vêm intensificando ações para recuperar a floresta, mas não sabemos ao certo o tamanho dessa demanda e o quanto cada região é capaz de absorver.
Saberes tradicionais
Em nota enviada ao GLOBO, o Ministério do Meio Ambiente reconhece que a falta de assistência técnica e de experiências de restauração nos diferentes biomas é desafio. Segundo a pasta, valorizar os saberes das populações tradicionais sobre processamento de sementes e mudas será muito importante. Mas o MMA também vê como fundamental fortalecer a cadeia produtiva da restauração.
Para Sâmia Nunes, é urgente ampliar programas de pagamento por serviços ambientais e de investimentos em pesquisas sobre ecologia das espécies. Também é essencial, na visão dela, aumentar a participação de populações tradicionais e fomentar a cadeia de coleta, produção e distribuição de sementes e mudas:
- Programas de financiamento são importantes para impulsionar a restauração. É preciso aumentar o volume de recursos para regiões vulneráveis, como a Amazônia, melhorando a acessibilidade às linhas de financiamento e crédito, com inclusão de comunidades tradicionais e fomento da bioeconomia.
'Revolução verde silenciosa' do BNDES
As soluções para financiamento de restauro são uma agenda estratégica do BNDES, que projeta uma "revolução verde silenciosa" para dar escala a iniciativas florestais. Entre recursos do Fundo Amazônia, do Fundo Clima e do próprio banco, já foi destinado mais de R$ 1,1 bilhão para o reflorestamento desde 2023.
Entre os principais investimentos através de editais estão o Floresta Viva, para financiar projetos em biomas como Cerrado, Pantanal e Caatinga; o Restaura Amazônia, que já recebeu R$450 milhões do Fundo Amazônia e lançou nove editais para ações em unidades de conservação, assentamentos e terras indígenas; e o Florestas do Bem-Estar, que selecionou cinco projetos em área de 800 hectares na Amazônia.
Em acesso a crédito, o BNDES já disponibilizou R$ 515 milhões a negócios florestais. Empresas como a Mombak, a Regreen e a Mil Madeiras são algumas que obtiveram financiamentos para iniciativas de remoção de carbono e manejo de árvores na Amazônia.
Mas o grande projeto da agenda é o Arco da Restauração, que visa recuperar a extensa área de floresta na Amazônia, conhecida como o arco do desmatamento, que vai do leste do Maranhão até o Acre. A meta é restaurar seis milhões de hectares até 2030, o que significa a remoção de 1,65 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera no período.
O maior desafio é a captação de recursos para um trabalho dessa magnitude. Mas Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES destaca que o montante já desembolsado para um negócio que sequer existia há 15 anos é um sinal do seu potencial econômico.
- É muito dinheiro para floresta. Saímos do desenho de projetos piloto interessantes e estamos atuando em escala. Hoje temos mais de 40 milhões de hectares degradados que poderiam ser restaurados. Só o Brasil tem tecnologia, capacidade e esse potencial de restauro excepcional - explica Campello, que acrescentou as expectativas para a COP30. - Um dos cartões postais do Brasil na COP30 vai ser floresta, acho que vamos sair com mais dinheiro na mesa. Já botamos na mesa as soluções que viabilizarão o restauro florestal do futuro. Está em andamento, não é mais promessa.
Desde que o BNDES lançou essa agenda, alguns gargalos ficaram evidentes, como a dificuldade de startups darem garantias para obterem financiamentos, e as incertezas do mercado sobre riscos e retornos. Por isso, explica Campello, o banco se aproximou dos atores desse mercado para buscar soluções. Assim surgiu o ProFlorestas +, em março, para contratação de créditos de carbono a partir de restauração florestal na Amazônia. A expectativa é restaurar 50 mil hectares de floresta degradada da Amazônia.
Em uma parceria com a Petrobrás, o BNDES oferecerá linhas de financiamento especiais, enquanto a petroleira vai garantir a compra de créditos de carbono gerados pelos projetos selecionados, em contratos de longo prazo. A seleção será feita através de leilões, a depender da melhor oferta de preços, e a primeira concorrência acontece em julho.
- Passamos a ter um contrato de referência para preço do carbono e teremos créditos de altíssima qualidade e integridade. Muita gente se manifestou e estamos sendo procurados por outros grandes demandantes internacionais para replicar o modelo. É o que vai pavimentar o caminho de restauro no Brasil na nossa avaliação - defende Tereza Campello.
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/06/05/em-ano-de-cop30-programas-do-governo-miram-o-restauro-de-milhoes-de-hectares-na-amazonia-e-no-cerrado.ghtml
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