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Variedade de rotas transformou Pará em centro nervoso do tráfico na amazônia, aponta estudo

18/11/2025

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Variedade de rotas transformou Pará em centro nervoso do tráfico na amazônia, aponta estudo
Com predominância do CV, estado precisa de resposta integrada contra organizações e desigualdade
Cenário atual conjuga disputas históricas com atividade de facções, segundo Instituto Mãe Crioula

18/11/2025

Lucas Lacerda

O Pará é considerado um centro nervoso para o tráfico internacional, com peso estratégico para o Comando Vermelho, e as rotas rodoviárias e aéreas têm ganhado força entre os criminosos, que também usam o dinheiro da cocaína para financiar outras atividades.

É o que diz o relatório "Crime Organizado na Amazônia Paraense", produzido pelo Instituto Mãe Crioula, que será lançado nesta quarta-feira (19) na Embaixada dos Povos, em Belém. O cenário atual no estado conjuga conflitos históricos pela terra e a atuação do crime organizado, que busca controlar tanto as rotas de droga quanto explorar recursos naturais.

O chamariz da Amazônia Legal como caminho da cocaína para os mercados norte-americano, europeu e africano tem atraído facções do Sudeste, como o CV (Comando Vermelho) e o PCC (Primeiro Comando da Capital), que não só disputam e dominam, mas também se aliam a grupos já existentes na região, como Comando Classe A e a Família Terror do Amapá.

O consumo também cresceu no Brasil e levou o país à segunda posição no ranking mundial, segundo dados do escritório da ONU sobre drogas, atrás apenas dos Estados Unidos. Isso faz, segundo o estudo, com que o garimpo e a grilagem sejam usados para aumentar o poder do narcotráfico. Análise, inclusive, que contrasta com uma possível redução do peso da droga nas atividades das facções.

"É um equívoco a avaliação de que outras atividades estão substituindo a questão da droga. O valor da cocaína no mercado europeu precisa ser enfatizado", afirma Aiala Couto, diretor-presidente do Instituto Mãe Crioula e pesquisador da Universidade do Estado do Pará. "É o dinheiro do narcotráfico que constrói infraestrutura com aviões, máquinas, com pistas de pouso e com a cooptação de pessoas para trabalhar na operação e no garimpo."

Ao longo dos anos, segundo Aiala, o comércio ilegal da droga tem se fortalecido com a proibição do consumo. "A questão do proibicionismo valoriza o preço da droga no mercado global. Uma cocaína que chega com o quilo a R$ 20 mil na fronteira do Amazonas chega à França a R$ 400 mil. Agora imagine uma tonelada."

Para ele, não é possível dissociar a relação financeira do narcotráfico com a lavagem de dinheiro e a multiplicação de atividades ilícitas. "O narcotráfico é a grande arma dessa conexão."

Além da integração entre as esferas municipal, estadual e federal para enfrentar o crime organizado, o instituto defende uma política de segurança com participação comunitária, a inteligência e o uso de dados, justiça territorial, para mediar conflitos e a prevenção contra a entrada no crime, com a promoção de educação, profissionalização e cultura para a juventude.

A instalação de bases fluviais de fiscalização nos municípios paraenses de Breves e Óbidos, por exemplo, aumentou as apreensões de drogas na região.

Em nota, a gestão Helder Barbalho (MDB) afirmou, por meio da pasta da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social, que criou uma delegacia especializada no combate a facções. "O trabalho tem sido feito em parceria com as agências de inteligência do estado, integradas com as polícias de outros estados, em especial com a do Rio de Janeiro, no que tange o compartilhamento de informações e dados, garantindo maiores resultados, assim como, com ações de conscientização e acolhimento às populações mais vulneráveis."

Além disso, o Governo do Pará afirmou que atua por meio de uma delegacia e de um laboratórios especializados no combate à lavagem de dinheiro para lidar com a ocultação de recursos do crime.

A gestão disse que atua no tema de conflitos agrários com quatro delegacias especializadas e batalhões rurais, além de uma agência de inteligência e do trabalho com agências federais para prevenir e mediar os embates.

Após a criação das bases fluviais, segundo o estudo, traficantes passaram a ampliar o uso de rotas aéreas e rodoviárias. O governo diz que enfrenta o problema com abordagens em rotas terrestres e pistas clandestinas, inclusive com apoio da Polícia Federal e da Força Aérea Brasileira.

A presença do CV no território paraense tem como objetivos assegurar o transporte para outras regiões do Brasil e fora do país, manter a proximidade com o Amazonas e a rota do rio Solimões, caminho de cocaína e skunk de produtores como Colômbia e Peru, e garantir a circulação nas redes hidroviária, rodoviária e aérea no estado.

A predominância aparente da facção no estado é um resultado, segundo o relatório, da disputa com o PCC, que dominava a chamada rota caipira da droga. O CV começou a se projetar em 2012 de Belém para a região metropolitana e para o interior, atingindo também comunidades rurais e territórios indígenas e quilombolas. Segundo o estudo, a facção tem se aproveitado do que chama de vazio institucional, que seria a ausência do Estado e de serviços e políticas para essas populações e territórios.

Com grupos locais, o CV foi estabelecendo alianças e conflitos -um dos mais notáveis foi contra o Comando Classe A, aliado do PCC, que ocorreu no presídio em Altamira, em 2019, com 62 detentos mortos.

A expansão do CV pode se dever ao modelo de franquia apontado no estudo, que tem no Rio de Janeiro sua matriz, responsável por coordenar a atuação de células. Entre os locais da matriz estão os complexos de favelas do Alemão e da Penha, além de Salgueiro e Rocinha. Ali são decididos os locais que seriam fortalecidos com armamento, por exemplo.

Isso também seria evidenciado pela presença de lideranças paraenses do CV entre os presos e mortos na Operação Contenção, a mais letal na história do país. Seis dos detidos eram do Pará, e os mortos foram 15.

Esse modelo de franquia também prevê uma exploração de taxas da população e de outros negócios, o que espalha, inclusive, a violência. Em 10 dos municípios mais violentos, a ação de facções é citada em 9.

Em Cumaru do Norte, cidade com cerca de 15 mil habitantes e líder do ranking, os exemplos estão nas disputas relacionadas a desmatamento para uso agropecuário ou de garimpo. Desde 1980, segundo o relatório, o garimpo Maria Bonita, instalado dentro da terra indígena Kayapó, é um vetor de violência. Mais recentemente, as disputas entre Comando Vermelho e PCC também têm contribuído para elevar as mortes violentas intencionais.

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2025/11/variedade-de-rotas-transformaram-para-em-centro-nervoso-do-trafico-na-amazonia-aponta-estudo.shtml
 

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