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Países da amazônia precisam ir unidos para COP30, diz presidente da OTCA

11/11/2025

Autor: HILDEBRAND, Martín Von

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



Países da amazônia precisam ir unidos para COP30, diz presidente da OTCA
Martín von Hildebrand diz que tema de segurança não pode ser tratado isoladamente por um país
Para representante da OTCA, TFFF é um esforço inovador lançado por pessoas que entendem muito sobre o tema

11/11/2025

Pedro Lovisi

O colombiano Martín von Hildebrand, 82, é uma figura ilustre na pauta climática, sobretudo na floresta amazônica, onde viveu durante 50 anos. Hoje, ele lidera a OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), grupo que reúne oito países amazônicos, entre eles o Brasil.

Martín está em Belém desde a semana passada. Ele participou da Cúpula do Clima, que reuniu autoridades de mais de cem países e agora estará na COP30, a conferência da ONU que discute mudanças climáticas. Na quinta-feira (13), ele vai participar do lançamento da Comissão Especial de Meio Ambiente e Clima, que reunirá ministérios de Meio Ambiente dos oito países.

De um apartamento alugado em Belém, ele conversou com a Folha sobre pautas que fazem parte do contexto da região, como meio ambiente, mineração e segurança. Segundo ele, é fundamental que os países amazônicos, inclusive a França -que não faz parte da OTCA- atuem juntos na COP30.

Ele também diz que o tema da segurança, crítico na região amazônica, não pode ser tratado isoladamente por um país.

Leia a entrevista abaixo.

Por um lado, alguns países e instituições financeiras elogiaram a criação do TFFF. Por outro, algumas ONGs se posicionaram contrárias. De que lado o senhor e a OTCA estão?
O TFFF é um esforço inovador para conseguir fundos significativos para a amazônia, o que é fundamental. É um esforço em que eu acredito e que está sendo lançado por um governo e pessoas que entendem muito do tema, por isso o considero extremamente importante. Além dele, a OTCA vai lançar um mecanismo financeiro, de US$ 250 milhões em doações por 10 anos, com uma visão regional.

O senhor se sentiu frustrado com o volume de recursos arrecadados inicialmente pelo TFFF, considerando que a meta é atrair US$ 25 bilhões dos países?
Eu penso de outra maneira. Tenho fé e confiança de que eles estão fazendo o que precisam fazer. Eu não avalio o ritmo; tenho confiança de que eles estão desenvolvendo o programa TFFF e que é importante, então vejo dessa forma. Não me ponho a medir [o volume de recursos] porque não tenho realmente o conhecimento dos especialistas que estão medindo.

O senhor considera os projetos de créditos de carbono na amazônia, tanto de conservação quanto de reflorestamento, uma solução para a preservação da floresta?
Por um lado, é uma boa ideia, mas falta regulamentação. A floresta tem um valor intrínseco. A floresta tem um valor real porque contribui enormemente para todo o planeta, de todos os pontos de vista. Tomemos a produção de água por evapotranspiração, que eventualmente leva 22 bilhões de toneladas de água diariamente à cordilheira andina. Então, eventualmente, faz todo sentido que se coloque um preço nisso; eu acredito que é uma questão pragmática.

Mas não estou especificando se é um crédito de água, se é um crédito de carbono ou se é um crédito de biodiversidade. O que sinalizo é que a floresta nos oferece serviços, e esses serviços precisam ser reconhecidos. Além disso, ao mesmo tempo, aqui há pessoas que precisam de recursos financeiros e, para que eles não venham do desmatamento ou da mineração, é necessário reconhecer o valor da contribuições da floresta

A busca por minerais críticos se intensificou e alguns deles estão na amazônia. Como o senhor enxerga a contradição entre a importância desses minerais para a mitigação climática e a degradação que a mineração pode causar na amazônia?
A chave está em colocar a vida no centro. A vida é o bem-estar das pessoas e sobretudo o bem-estar do ecossistema; se não tivermos um ecossistema, estamos perdidos. Primeiro, eu trato a vida como prioridade e, a partir daí, começo a fazer meus indicadores e a ver como vou gerenciar a mineração. Evidentemente, se a mineração está me causando mais mal do que bem, tenho que pará-la ou tenho que mudá-la.

Alguns podem dizer que a mineração é benéfica devido ao desenvolvimento econômico das cidades mineradoras, e outros podem dizer que é maléfica devido à degradação ambiental. Nesse caso, causar bem ou mal não é relativo?
Não é tão relativo. Se estamos falando de recursos essenciais para aspectos da tecnologia, então temos que tirar de algum lugar por meio de um sistema, na medida do possível, regenerativo. Mas se o ponto central é dinheiro, aí é outra discussão. Se queremos dinheiro para as cidades, aí vamos pensar em pagá-las pelo serviço de bombeamento de água. Ou seja, há outros caminhos, não dependemos da mineração para fazer dinheiro, dependemos da mineração para avançar nas tecnologias necessárias para o planeta.

O presidente Lula diz que são os lucros da extração de petróleo, inclusive na amazônia, que financiarão a transição energética do país. O senhor acredita que esse é o mesmo dilema dos minerais críticos?
Minha visão sobre isso é que o petróleo é uma das causas do aquecimento global e temos que reduzi-lo o mais rápido possível e substituí-lo por energia limpa. Precisamos de energia e sabemos que nem todos os países podem fazer essa mudança no mesmo ritmo e, portanto, cada um tem que fazer o melhor possível, porque o que está em jogo é o planeta. Os que estão emitindo muito têm que mitigar, já nós temos que proteger a floresta e evitar o desmatamento, além de restaurá-la.

A região amazônica está infestada de organizações criminosas, que acabam afetando as políticas ambientais e dificultando o controle estatal. É um problema no qual a OTCA tem trabalhado?
As organizações criminosas estão em toda a [ações que provocam] insegurança ambiental, como desmatamento, pecuária, mineração, acumulação de terras, tráfico de armas e tráfico de drogas. O mais importante da OTCA é que ela é regional, e há temas, como a segurança, dos quais um país não pode dar conta sozinho. É essencial que se faça algo entre os oito países, inclusive com o nono, que seria a França.

Temos que ter não só polícia e exército, mas também integração entre ministérios da Justiça e juízes ambientais. Além disso, é necessário pensar em alternativas econômicas para as pessoas.

O que foi discutido na reunião dos líderes da OTCA em agosto, em Bogotá?
Foi criado um mecanismo de povos indígenas dentro da OTCA, onde há um representante indígena de cada país e um representante do governo. Com isso, essas 16 pessoas têm um espaço na OTCA para acompanhar e promover processos; é uma possibilidade para os líderes indígenas participarem diretamente das discussões. Esse mecanismo será lançado agora na COP30.

Qual é a pauta central da OTCA na COP 30?
Eu diria o lançamento da Comissão Especial de Meio Ambiente e Clima, com a ministra Marina Silva e com todos os ministros de meio ambiente de todos os países, além do mecanismo de povos indígenas.

Mas o que mais aspiramos é que se tenha uma visão de conjunto da amazônia. Cada país é autônomo e soberano, mas a visão de conjunto é necessária para saúde, meio ambiente e segurança; tudo depende de vermos isso como um bioma e a possibilidade de trocar experiências importantes em cada país. Também defendemos que cada vez haja mais participação da sociedade civil e de cientistas.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2025/11/paises-da-amazonia-precisam-ir-unidos-para-cop30-diz-presidente-da-otca.shtml
 

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